AS EMOÇÕES
Até à década de 70, as emoções
estiveram afastadas do núcleo central da reflexão sobre o comportamento humano
e sobre a sociedade. Eram consideradas perturbadoras do modo de pensar e de
agir, devido a serem irracionais. No entanto, tal concepção foi ultrapassada, as
emoções passaram a ser encaradas como processos com valor adaptativo,
fundamentais no ato de decidir.
Por experiência pessoal,
reconhecemos que é possível perceber, se por exemplo, a nossa mãe já teve
conhecimento de uma situação menos agradável em que nos encontramos envolvidos,
mesmo sem abordarmos o assunto: as expressões faciais, a entoação da sua voz, a
postura do corpo podem denunciar as suas emoções.
Assim, é possível concluir que as
emoções estão presentes nas interacções sociais, acompanhando ou até
substituindo a expressão linguística.
No inicio da vida, as emoções
adquirem um papel fundamental. Tal como já abordamos nas aulas, o ser humano
quando nasce esta desprovido da possibilidade de sobreviver sozinho. O seu
carácter prematuro torna-o dependente dos adultos que dele cuidam. Para superar
essa dependência o bebe, utiliza as emoções para comunicar com a mãe,
elaborando um sistema de trocas através de gestos e mímicas. Os sinais
emocionais-sorriso, choro, grito-constituem um sistema de comunicação precoce
que permite ao bebé levar o adulto a participar na sua sensibilidade e a obter
as respostas necessárias ao seu bem estar e à sua sobrevivência.
Podemos, deste modo afirmar que,
as emoções possuem um valor adaptativo
porque são sinalizadoras de determinados estados.
A relação intima das relações com os valores, as ideias e os
princípios tornam as emoções exclusivamente humanas.
No geral, as emoções são processos desencadeados por um
acontecimento, pessoa, situação, que é objecto de avaliação cognitiva nem sempre
consciente. A emoção é uma experiência subjectiva que pode ser acompanhada por
reacções orgânicas (ex:modificação do ritmo cardíaco) e pode traduzir-se por uma
tendência para a acção, como, por exemplo, a fuga, em caso de medo.
HÁ DOIS TIPOS DE EMOÇÕES:
Emoções primarias: São as que aparecem desde muito cedo na
infância, sendo consideradas inatas e úteis para uma reacção rápida. Cabe ao
sistema límbico o desencadeamento deste tipo de emoções.
Exemplo: alergia, tristeza, medo...
Emoções secundarias: São as que se experimentam mais tarde.
Implicam uma avaliação cognitiva das situações e o recurso a aprendizagens
feitas. Neste tipo de emoções estão envolvidas as áreas do córtex pré-frontal.
Exemplo: vergonha, ciume, culpa, orgulho....
PERSPECTIVAS SOBRE AS EMOÇÕES
Perspectiva fisiológica: Tem como interesse fundamental o
estabelecimento da relação entre o corpo e a mente, que se influenciam
mutuamente.
Esta perspectiva explica que face a uma situação de perigo,
eu não fujo porque tenho medo, eu tenho medo porque fujo. É o tomar das pernas
a tremer, do coração a bater e da respiração ofegante que me faz ter medo.
Assim, as emoções resultam das percepções do estado do corpo, das mudanças
provocadas por estímulos particulares.
Perspectiva cognitivista: Defende que existe uma relação
entre o que pensamos e o que sentimos, entre os nosso processos cognitivos e as
emoções. As nossas cognições são um elemento fundamental no desencadeamento das
emoções. É o modo como eu encaro uma situação, como a interpreto, que causa a
emoção, e não a situação ou o acontecimento propriamente ditos.
Exemplo: Zango-me com uma pessoa porque interpreto o seu
comportamento como ofensivo. Não é o comportamento da pessoa em si que provoca
a minha raiva, mas o facto de eu o interpretar como tal.
Perspectiva culturalista: As emoções são comportamentos
aprendidos no processo de socialização. Considerando que as emoções são, como a
linguagem, uma construção social e, como tal, necessitam de ser aprendidas. A
cada cultura correspondem diferentes emoções e diferentes formas de as exprimir.
Exemplo: Em algumas culturas, não se admite que os homens
chorem, enquanto noutras as expressão das emoções pelo choro é valorizada.
A RAZÃO E A EMOÇÃO POR ANTÓNIO DAMÁSIO
As emoções e os sentimentos não são um obstáculo ao
funcionamento da razão, de facto encontram se envolvidos nos processos de
decisão.
António Damásio, considera que a selecção das melhores opções
não é necessariamente produzida através do raciocínio. Omite-se a existência de
um mecanismo que cria um reportório que orienta as diferentes opções para a
selecção.
Durante muito tempo, considerou-se que para que a melhor
decisão fosse tomada, as emoções teriam que ficar de fora porque só
prejudicariam a escolha da melhor opção. Damásio chama atenção para o facto de
que a análise de todas as possibilidades e as respectivas consequências lógicas
inviabilizariam qualquer decisão. A analise rigorosa de cada hipótese levaria
tanto tempo que a opção escolhida deixaria de ser oportuna, ou, então,
perder-nos-íamos nos cálculos das vantagens e das desvantagens.
" O organismo tem algumas razões que a razão tem de utilizar"-António Damásio