A plasticidade cerebral define-se como a capacidade que o cérebro
tem em se remodelar em função das experiências do sujeito, reformulando as suas
conexões em função das necessidades e dos factores do meio ambiente.
Há alguns anos atrás, admitia-se que o tecido
cerebral não tinha capacidade regenerativa e que o cérebro era definido
geneticamente, ou seja, possuía um programa genético fixo caracterizado pela
estabilidade das suas conexões que se diziam, na altura, imutáveis. No
entanto, não era possível explicar o facto de pacientes com lesões severas
obterem, com técnicas de terapia, a recuperação de algumas funções.
Porém, o aumento do conhecimento
sobre o cérebro mostrou que este é muito mais maleável do que até então se
imaginava, modificando-se sob o efeito da experiência, das percepções, das
acções e dos comportamentos.
Alain Prochiantz, neuro-cientista,
que se dedica à compreensão da
plasticidade do cérebro.
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Deste modo, podemos referir que a relação que o ser
humano estabelece com o meio produz grandes modificações no seu cérebro,
permitindo uma constante adaptação e aprendizagem ao longo de toda a vida.
Assim, o processo da plasticidade cerebral torna o ser humano mais eficaz .
A plasticidade cerebral explica o
facto de certas regiões do cérebro poderem substituir as funções afectadas por
lesões cerebrais. Como tal, uma função perdida devido a uma lesão cerebral tal
como um tumor, AVC, etc... pode ser recuperada por uma área vizinha da
zona lesionada. Contudo, a recuperação de certas funções depende de alguns
factores, como a idade do indivíduo, a área da lesão, a quantidade de tecidos
afectados, os mecanismos de reorganização cerebral envolvidos . Para além
destes factores, a terapia vai desenvolver um papel fundamental na recuperação
do individuo.
PLASTICIDADE SINÁPTICA
As sinapses são conexões (impulsos
nervosos ) especializadas que permitem transmitir informação entre os
neurónios. São, por isso, estruturas dinâmicas que governam e moldam o fluxo de
informação do circuito nervoso .
Sendo assim, a plasticidade sináptica
consiste na capacidade de modificação por parte das redes neuronais. Ou seja,
perante cada experiência nova do indivíduo, as sinapses são reforçadas ou
alteradas, permitindo a aquisição de novas respostas ao meio ambiente.
Por isso, a plasticidade sináptica
constitui um mecanismo importante da plasticidade cerebral,
permitindo igualmente que uma lesão ao nível da transmissão de informação
neuronal seja recuperada através da criação de outras redes neuronais que
possam "disfarçar" os danos causados pela lesão.
Para além de tudo já referido, é também esta plasticidade cerebral
que vai proporcionar a aprendizagem de cada individuo, uma vez que é
graças à necessidade constante de resposta de cada individuo ao meio que este aprende. A
aprendizagem é o principal instrumento de adaptação humana que se manifestará
nas diversas vertentes sociais, cientificas, culturais, etc...
IMPORTÂNCIA DA TERAPIA
A reabilitação do cérebro lesionado pode
promover a recuperação de
circuitos neuronais danificados. Quando há uma pequena perda de conectividade
neuronal, esta tende a ser recuperada de uma forma autónoma .
No entanto, quando essa perda é de maior
grau, tenderá a tornar-se uma perda permanente, daí a impossibilidade de
recuperar certas funções depois de determinados acidentes ou doenças provocarem
elevados danos neurológicos.
Criança em recuperação após lesão cerebral. |
Mesmo assim, em muitos casos, as
lesões aparentemente irreparáveis podem tornar-se “parcialmente” recuperáveis,
por exemplo, o caso de uma criança que esteve sequestrada pelo próprio pai
durante 13 anos e não falava. Através de testes neurológicos descobriu-se que a
área do cérebro responsável pelo controlo da linguagem estava menos
desenvolvida, isto é, não tinha sido suficientemente estimulada durante o
momento adequado para o desenvolvimento das estruturas cerebrais responsáveis
pela linguagem. Contudo, submetida a uma terapia específica , a criança
conseguiu recuperar, lentamente, formas elementares de comunicação verbal.
Para este e muitos outros casos de lesões cerebrais, foi
necessário um tratamento especifico, proporcionado por diversos tipos de
terapia (fisioterapia, psicoterapia, osteopatia, entre muitos outros), que
mantêm níveis adequados de estímulos facilitadores e inibidores de funções nos
neurónios.